"Um dia você será uma grande bruxa, Ariadne, eu consigo ver isso muito bem. Seus pais também sabem, principalmente sua mãe. Ela só tem medo do preço você terá que pagar para alcançar tudo o que deseja. Assim como eu."
Essa não será uma resenha fácil de escrever, porque Rosazul parece dois livros em um. Portanto, vamos por partes. E senta que vai ser longa.
Ariadne sempre sonhou em ser uma bruxa. Um sonho comum para muitas crianças, mas difícil de se tornar realidade para a grande maioria delas e, mais difícil ainda, de ter a educação necessária para atingir o potencial máximo dos seus dons. Nascida em uma família humilde, os primeiros sinais de magia que a menina apresenta são motivos de preocupação para os pais, em especial para sua mãe. Em sua ingenuidade, Ariadne só enxerga o lado bom de ser uma bruxa, ela sonha com poder, riqueza e fama e ignora completamente o fato de que, no reino em que vive, as bruxas são forças indispensáveis para as guerras e o luxo tem um preço mais alto do que dinheiro pode pagar.
Aos 14 anos, para a incredulidade do pai e desespero da mãe, Ariadne consegue uma vaga como bolsista integral na Academia Rosazul, a melhor e mais famosa escola de magia. Para ela, é o início da realização de um sonho, mas não demora para que a conquista não pareça tão doce assim.
No começo do livro, a protagonista de Rosazul é uma menina de 14 anos que acha que sabe tudo da vida. Ela acredita que os mais velhos são cautelosos demais, que a mãe é amargurada, que sabe tudo de magia e que, por ser uma bruxa, sua vida será como as histórias das grandes heroínas que admira - só que, claro, ela deliberadamente ignora todas as dificuldades pelas quais ditas heroínas passaram.
Ao chegar na escola, o primeiro choque de realidade que leva é sobre aquilo que seus pais sempre a alertaram: ela é uma menina pobre e suas colegas desfilam pelos corredores em vestidos caros e joias enquanto a encaram e falam maldades por ela ser uma bolsista. No entanto, isso apenas aumenta a determinação de Ariadne em ser a maior bruxa de todos os tempos e provar para os pais, para as colegas e para todos que duvidaram dela.
A primeira metade de Rosazul se passa basicamente nos interiores da escola. É dentro dela que, contrariando todas as expectativas, Ariadne consegue fazer amigas, se aproxima das professoras, aprende sobre magia e conhece Lia. Esses capítulos iniciais são leves, engraçados, trazem muito do amadurecimento não apenas de Ariadne, mas também das outras meninas e trazem, principalmente, a sensação de união que vai, aos poucos, se criando entre as alunas. Roberto Fideli fez um ótimo papel com as personagens secundárias e aqui irei destacar Ísis, a melhor amiga de Ariadne, que é aquele tipo de pessoa que consegue fazer qualquer um se sentir bem e acolhido, a diretora Ursula que foi, de longe, minha personagem favorita e a Maeve, uma garota que teve um desenvolvimento tão bom e tão surpreendente que eu nem acredito que não gostava dela no início.
Lia é uma personagem que merece ter um espaço só para ela. Assim como Ariadne, a bruxa é uma bolsista, mas se Ariadne sofre preconceito por ser pobre, Lia sofre por ser pobre e vinda de outro reino. Ao longo da narrativa, Roberto Fideli vai colocando recortes de notícias e trechos de livros que se ambientam no universo que ele criou e é por meio deles que o leitor percebe que as tensões entre os reinos do continente Azeron são crescentes e que a guerra é iminente e Lia sempre esteve ciente disso. Reservada e, diferente de Ariadne, nada interessada em se enturmar com suas colegas, a garota sempre soube que, não importa o que ela tentasse, ela nunca seria como as outras alunas. Quando o indício de uma paixão surge entre as duas, Lia faz de tudo para manter Ariadne longe e qualquer coisa que a protagonista faça parece irritá-la.
Desde o começo, o romance entre elas acontece sob uma sombra. A princípio, é o medo do que as outras vão falar, mas logo se torna algo muito pior e mais perigoso. Os reinos das duas entram em guerra e apesar de ainda não terem sido convocadas, Lia passa a sofrer ainda mais nas mãos das outras alunas que a enxergam como uma inimiga infiltrada.
E é aqui que eu traço uma linha imaginária e começo a falar sobre a outra parte de Rosazul.
Inevitavelmente, a convocação chega, Ariadne e suas amigas lutam por seu reino, mas Lia é enviada para o outro lado do campo de batalha, fazendo com que o maior pesadelo do casal se concretize: uma guerra real, com danos reais e consequências irremediáveis e onde Lia e Ariadne lutam em lados opostos.
Se os primeiros capítulos são leves e engraçados, a segunda metade da narrativa é pesada, tensa e triste. Elas não têm mais 14 anos, não estão mais na escola e tudo aquilo sobre o qual Ariadne fora avisada, mas sempre ignorou, se torna realidade. As bruxas são primordiais para a guerra e ambos os lados usam dos poderes que elas dispõem para ganhar alguma vantagem sobre o outro. As garotas assistem suas amigas e professoras morrerem nos campos de batalha e não podem parar porque precisam continuar lutando. Ariadne sofre perda depois de perda e seu coração está divido entre a lealdade ao seu reino e a vontade de reencontrar Lia.
A menina que um dia sonhou em ser uma bruxa conquista esse sonho. Ela conquista a fama, o poder, o prestígio, o dinheiro, a influência, mas ela finalmente entende porque seus pais lamentavam, porque sua mãe se desesperava.
Rosazul foi um livro que mexeu muito comigo. Eu me apeguei demais às garotas, às professoras, dei muita risada, me emocionei, passei raiva, mandei mil mensagens pro Roberto Fideli em caps lock com meus surtos e achei que meu coração ia sair pela boca em alguns momentos.
Eu tenho plena noção que essa resenha está enorme e também sei que eu não falei nem 1/3 do que eu queria falar sobre essa história. Porque tudo nela parece que vai transbordar. Ela é linda, divertida, engraçada, mas também é triste, tão triste e tão pesada. É sobre realizar sonhos, mas não do jeito que você imaginava, fazer amigas, mas vê-las morrer ao seu lado e não poder fazer nada, encontrar um amor, mas precisar lutar uma guerra contra ele.
Rosazul é muitas coisas e apesar de ter tentado ao máximo passar pelo menos um pouco do que eu senti enquanto lia, eu sei que eu não cheguei nem perto. Mas espero que tenha sido o suficiente!
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