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Foto do escritorAna Paula Moscoso

Loucos por Livros - Emily Henry



Onde você quiser, sempre que você quiser. Vamos nos divertir muito sendo pessoas urbanas, e vamos ser felizes. Você me deixa te amar tanto quanto eu sei que posso, pelo tempo que eu sei que posso, e você vai ter tudo o que quiser.

Emily Henry é uma escritora que parece estar tendo o seu BOOM entre os brasileiros, mas não são todas as pessoas que caem nas graças dos romances que ela vem publicando. As opiniões são bem divididas, e a relação que os leitores têm com os livros da autora são, geralmente, do tipo "ou ama, ou odeia".


No fim do dia, eu posso falar apenas pela minha experiência e a que eu tive com Loucos por Livros não poderia ter sido melhor.


Nora Stephens é uma agente literária e, logo no prólogo, ela avisa: veja bem, eu conheço o suficiente sobre livros para te dizer que eu não sou a heroína boazinha. A mulher de 32 anos, viciada no seu trabalho, amante da cidade de Nova Iorque e de tudo que a faz - em teoria - a típica "vilã" dos romances clichês, não está disposta a abrir mão da vida que construiu em prol de relacionamento algum e a rigidez com a qual ela encara sua rotina e suas tarefas a deixaram com uma fama de sem coração; rainha de gelo; Miranda Priestly e Cruella de Vil parecem adoráveis se comparadas a ela.


Do outro lado, está Charlie Lastra, um famoso editor. Famoso por fazer dos livros pelos quais ele é responsável um sucesso e também pela sua imensa falta de tato para lidar com pessoas. Ou seja, tão workaholic, "sem coração", sincero beirando a grosseria e, bom, "defeituoso" quanto a Nora.


Mas é aí que está o pulo do gato. Faz muito tempo que protagonistas "perfeitos" deixaram de ser uma exigência. Eles ainda existem, mas são os "duvidosos" que, atualmente, habitam os corações da maioria dos leitores. E Nora e Charlie se encaixam muito bem nesse cenário.


Loucos por Livros foi uma história que me conquistou muito fácil. O humor ácido, as farpas trocadas entre os personagens, as constantes referências a inúmeros filmes e livros, a relação entre Nora e sua irmã, Libby, as memórias que a protagonista tem da mãe, a maneira como ela enxerga a metrópole que tanto ama. E eu sei que as pessoas que estão lendo essa resenha querem saber sobre o romance, mas antes eu quero falar um pouco sobre o trio Nora, Libby e a mãe das duas.


Como sempre há e sempre haverá nos clichês, nossa protagonista tem um ponto fraco. Libby é esse ponto fraco. É a personagem romântica que encontrou o amor cedo na vida, e agora está esperando seu terceiro filho. O completo oposto de Nora e, ainda assim, a pessoa que consegue tudo o que quer, na hora que quer porque a agente literária é incapaz de negar qualquer coisa à pessoa por quem ela, basicamente, guiou e guia todas as decisões que faz na vida.


Sendo a mais velha e tendo sido criada com responsabilidades que iam além daquelas de uma irmã, Nora coloca sobre seus ombros o peso da felicidade da sua caçula. Mas uma coisa é você cuidar de alguém e outra completamente diferente é você acreditar que tem o poder de virar o mundo ao avesso e mudar tudo para que essa pessoa - já casada, já mãe, já adulta - tenha uma vida melhor.


Nora sempre fez tudo por Libby. O problema é que, na intenção de cuidar, ela muitas vezes parece esquecer que está lidando com alguém que tem suas próprias vontades - e uma delas pode, muito bem, ser a de querer lutar suas próprias batalhas. O relacionamento entre as duas toma uma boa parte da história, acompanhamos a Nora enquanto ela aprende a respeitar o espaço da irmã e, em paralelo, vemos que a Libby ama, se importa e se preocupa com Nora tanto quanto o inverso.


Outro ponto que me arrasou - e só de começar a escrever sobre isso, meus olhos já se enchem de lágrimas - é a memória que a protagonista tem de sua mãe e essa memória, não tem outra maneira que possa descrever melhor, é tão mágica, tão envolta em grossas camadas de saudade e nostalgia que eu me atreveria a chamar de ilusória caso a autora não deixasse claro que a personagem sabe sim - talvez até demais - que nem tudo era belo e muito menos perfeito. Ela apenas prefere focar naquilo de bom que a mãe ensinou a ela, na mulher esperançosa que via beleza até nos momentos mais críticos.


Como vocês podem ver, eu já escrevi um bocado e pouco foi sobre o romance. Não porque ele não seja o foco e não por não ter amado demais o desenvolvimento de Nora e Charlie como um casal, mas sim porque Loucos por Livros vai além desses dois, além dos colegas de trabalho que não vão com a cara um do outro e se apaixonam.


Nora e Charlie foi uma casal maravilhoso de se ler. Eles são engraçados, inteligentes, sabem o que querem, não têm paciência para joguinhos e não há espaço para mal entendidos entre eles porque são duas pessoas sinceras e diretas demais para deixar qualquer coisa ficar menos do que 100% clara. Ambos estão cientes de suas prioridades, de seus deveres e nenhum quer ou cogita fugir deles por causa do sentimento que surge. Não. O que Nora e Charlie fazem é procurar soluções, caminhos alternativos para que o clichê que eles estão tentando construir tenha o final que deve ter: o feliz. É pé no chão, é "isso não vai funcionar, mas isso aqui possa ser que funcione".


Nora e Charlie escrevem a história que eles querem viver. Eles não o fazem sem ajuda, sem um empurrãozinho do acaso ou de outros personagens, mas eles também não jogam para o alto e esperam que tudo se resolva.


Emily Henry tem uma prosa agridoce. Ela bate e alisa. Ela faz você rir muito em uma página apenas para, na página seguinte, te emocionar ou te fazer parar para refletir sobre o que acabou de ler. Ela escreveu uma comédia romântica que me fez terminar com os olhos inchados de tanto chorar. O que mais me marcou, entretanto, foi a sensação maravilhosa de estar assistindo dois personagens construírem seu próprio clichê, sem ceder ao que deveria ser ou como deveria ser.


Eu amei demais Loucos por Livros. Se tornou um dos meus romances preferidos e eu espero que, se você decidir dar uma chance, que você ame, ria e se emocione tanto quanto eu!


Se alguém é capaz de dar um jeito de negociar um final feliz, esse alguém é Nora Stephens.

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